Demonstraremos a perspectiva dos ciclistas em três aspectos principais: Segurança, Infraestrutura e Relações


O número de ciclistas nas ruas é uma questão que vem sendo cada vez mais trabalhada em Fortaleza nos últimos anos. Com o recente lançamento do programa "Pedala mais Fortaleza”, em 2023 a capital cearense tem se empenhado em tentar passar do total de 237 mil ciclistas para 470 mil em dez anos. Porém, aumentar a popularidade da bicicleta é algo que envolve muitos aspectos relacionados a questões de infraestrutura e segurança.
A bicicleta é um meio de transporte rápido e sustentável, mas que ainda enfrenta riscos quando trafega pela cidade. Apesar da existência de ciclovias e ciclofaixas em Fortaleza, muitos ciclistas ainda têm que dividir espaço com outros veículos nas vias, seja pelas estruturas não se estenderem por toda capital, seja por existirem condutores que invadem o espaço destinado à bicicleta.
Em consequência dos problemas de estrutura, desrespeito ao Código de Trânsito e da desatenção, acidentes acabam acontecendo nas vias. Como forma de medir e mapear estes problemas, a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza (AMC) emite relatórios anuais com os balanços das ocorrências registradas.
Segundo o levantamento mais recente, efetuado no ano passado [2023], 99% das vítimas fatais registradas entre 2022 e 2023 são usuários considerados vulneráveis como pedestres, ciclistas, condutores e passageiros de motocicletas.
Dentro dessa distribuição, os usuários de bicicleta estão em terceiro lugar representando cerca de 8,3% dos casos, ficando abaixo apenas dos pedestres com 38,2% e dos motociclistas com 48,4%.

Mesmo quando avaliado em níveis históricos, de 2004 a 2023, esse cenário não é muito diferente do mencionado anteriormente, com a bicicleta permanecendo alternando entre o 3° e o 4° lugar do ranking das vítimas fatais em quase todos os anos observados. Mas, quando se analisa apenas os dados referentes às ocorrências com ciclistas, é possível observar que apesar da oscilação numérica, que levou a um novo aumento no número de vítimas fatais após 2015 (última grande queda registrada antes das oscilações), a tendência é a diminuição dos casos.


O relatório apresenta ainda um levantamento dos acidentes de trânsito que resultaram apenas em ferimentos. Nesse aspecto também é possível observar uma queda nos números registrados pela bicicleta. Contudo, diferente dos casos fatais, os índices registrados não podem ser comparados de 2004 a 2023 devido a uma alteração na metodologia de coleta e análise dos dados. Logo o quadro só pode ser examinado de 2016, ano da modificação, em diante.


Com tais números, é visível uma maior constância, apesar de algumas oscilações numéricas. Portanto, os ciclistas ficam em 4º lugar no ranking de feridos representando 5% dos casos quando comparados os índices de 2022 e 2023.
Diante desse cenário, alguns ciclistas se mostram inseguros para pedalar sozinhos na cidade, seja pelo risco de acidentes ou até mesmo por outras circunstâncias como assaltos. Confira o relato dos entrevistados:
O respeito como forma de tentar garantir a segurança no trânsito
Diversos fatores contribuem para acidentes de trânsito envolvendo bicicletas. No entanto, existem regras que quando rigorosamente seguidas e respeitadas podem prevenir possíveis acidentes. Confira o que os ciclistas podem fazer para garantir segurança enquanto pedalam pelas vias.

Contudo, o ciclista não é o único que possui deveres a cumprir para garantir a própria segurança e a de outras pessoas nas ruas. As regras são aplicadas a todos e devem ser cumpridas conforme consta no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Publicado em 1998, esse regulamento estabelece as normas necessárias para um convívio saudável entre ciclistas, motoristas e pedestres. Para aprofundar seu conhecimento sobre estas leis que garantem a segurança nas vias, confira a cartilha do Governo Federal sobre as leis de trânsito para ciclistas no botão abaixo.

A bicicleta pode ser considerada o transporte do futuro e já é vista desde muito tempo nos quatro cantos do mundo. Apesar de não voar, nem proporcionar velocidades extraordinárias, como as máquinas que eram retratadas em filmes com viés futurista das décadas de 80 e 90, ela se mostra como sendo um meio de transporte versátil e atemporal.
Não é de hoje a acirrada disputa por espaço e reconhecimento que as bicicletas enfrentam no trânsito das grandes e pequenas capitais. Na Cidade da Luz [Fortaleza], essa relação não ocorre de modo diferente.
Ao longo dos anos, em meio ao constante processo de urbanização ocorrido na Capital Alencarina, houve a necessidade em se fazer investimentos estratégicos para acompanhar o crescimento do número de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte na cidade [atualmente, cerca de 240 mil pessoas]. Tais medidas envolvem principalmente a ampliação da malha cicloviária da cidade, por meio da criação de ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas.
Em 12 de junho de 2018, a cidade de Fortaleza deu um importante passo para garantir a sustentabilidade da política cicloviária, ao sancionar a Lei Nº 10.752 (Fortaleza, 2018), que determina que todos os recursos advindos do estacionamento público rotativo (Zona Azul) devem ser utilizados para investir em ações voltadas à mobilidade por bicicleta, incluindo ciclofaixas, ciclovias, paraciclos, entre outros.
Refletindo tais mudanças na logística de infraestrutura e no trânsito de Fortaleza, em 2012, havia apenas 68 km de malha cicloviária. Nos dias atuais, de acordo com dados do Canal de Mobilidade da Prefeitura de Fortaleza, a capital conta com cerca de 430km, tendo sido um crescimento de 529%, quando comparado com o ano de 2012.
Um fenômeno observado sobretudo nas grandes capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo - em Fortaleza não foi diferente - é o caso de pessoas que migram dos transportes tradicionais [carros e motocicletas] para medidas mais sustentáveis.
Nesse cenário, o uso de bicicletas e motocicletas elétricas para se locomover no dia a dia tem sido uma alternativa mais rápida, por diminuir a perda de tempo que os trânsitos dessas cidades geralmente proporcionam, pelo excesso de veículos nas ruas.
Com isso, Fortaleza caminha a passos largos para se tornar a capital da bicicleta, tendo como meta, em dez anos, aumentar para 470 mil o número de ciclistas na cidade e continuar ampliando sua malha cicloviária para que haja infraestrutura adequada para acompanhar o aumento de ciclistas.
Confira o relato de alguns ciclistas comentando sobre o impacto das ciclovias e algumas sugestões de como melhorá-las:

Para além das estatísticas, também é necessário falar da bicicleta como elemento possibilitador da formação de laços e construção de afeto.
Uma vez que andar de bicicleta já é um hábito, as pessoas vão buscando ir além. É por isso que tem se popularizado os grupos de ciclismo. Esses grupos se reúnem em algum ponto da cidade e pedalam coletivamente por quilômetros até o destino escolhido.
Em Fortaleza, existem diferentes grupos em dias e horários variados, o que facilita para os ciclistas encontrarem um que se encaixe na sua rotina. Com esses grupos, muitos relatam que são a motivação para pedalar, pois é uma maneira de praticar o esporte com os amigos, se sentirem em segurança e ter uma rede de apoio para eventuais problemas.
Confira algumas histórias de como o ciclismo foi apresentado na vida dos entrevistados, seja por familiares, seja por amigos:
Pedalar é um hábito que todos já sabem que faz bem para a saúde, meio ambiente, economia de tempo, e por aí vai. Mas nem todo mundo inicia essa jornada por motivos como falta de equipamento, morar em locais inacessíveis para a prática, insegurança, ou não ter companhia. Pensando nisso, nossa reportagem especial traz as vivências e as dificuldades dos ciclistas em Fortaleza.
Antes de tudo, vale lembrar que para começar no mundo da bike, cada um tem suas motivações próprias. É comum vermos razões como cuidar da saúde, pela praticidade no dia a dia ou até para estar próximo de alguém especial. Seja qual for o motivo para começar, todos aqueles que criam o hábito de pedalar, desenvolvem ali uma ligação com a prática e afetos com as relações que se constroem no caminho.
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