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Ney Gomes: Jornada com o ciclismo

Maria Clara Lima, Karizia Marques, Luis Otavio Filho e Ryan Marrocos
Ney Gomes é voluntário do projeto Bike Anjo, um projeto dedicado a ensinar pessoas de todas as idades como andar de bicicleta. Ele contará sua jornada no ciclismo e como se tornou voluntario da iniciativa.

A foto de um homem branco, cabelo curto grisalho, barba por fazer grisalha, óculos roxo e camiseta cinza
Foto: Ney Gomes


Ney Gomes - Jornada com o ciclismo


"Separador de texto. Imagem de quatro bicicletas de cor amarela


Transcrição:


Karizia Marques: Olá gente, pra conhecer um pouco melhor como é a relação que o ciclista tem com a bicicleta em Fortaleza, conversamos com Ney Gomes. Conhecemos ele em um dia de ação do Bike Anjo, que é um projeto nacional que ensina pessoas de todas as idades a pedalarem. O Ney atua no projeto como colaborador voluntário e contou pra gente um pouco da sua história com a bicicleta, vamos conferir.


Ney Gomes: Meu nome é Ney Gomes, sou ciclista aqui em Fortaleza e, com muito orgulho, sou voluntário no projeto Bike Anjo Fortaleza


K: Quando a gente começa a pedalar, cada um tem suas próprias razões e motivações. E com o Gomes não seria diferente, olha só que legal a história que ele contou pra gente sobre como tudo começou.


N: Minha relação com a bicicleta começou de forma inusitada. Eu tinha muita vontade de aprender a andar de bicicleta, mas eu não tinha uma.


Então comecei a trabalhar com um senhor que vendia verdura na feira. Toda manhã a gente ia pra feira e lá pelas 9 horas, ele pedia pra mim deixar verduras na casa dele e eu sempre ia andando, porque eu não sabia andar de bicicleta.


Aí uma certa noite fui dormir. Lá pela madrugada, sonhei andando de bicicleta. Aí acordei umas 3 horas da manhã e corri pra casa do meu patrão, peguei a bicicleta dele e, do jeito que eu sonhei, eu fiz em cima da bicicleta. Daí eu comecei a andar de bicicleta, foi incrível isso.


K: E para além disso, o ato de pedalar traz diversas mudanças na nossa vida em muitos aspectos diferentes. Sejam elas nos nossos hábitos, na nossa saúde ou nas nossas relações com as pessoas.


N: Bom, a minha relação com a bicicleta começou dessa forma que eu respondi a ele na primeira pergunta. E depois disso, eu tinha uns 13 anos quando aprendi a andar de bicicleta, depois disso eu ainda pedalei por um tempo,uns 2, 3 anos, aí comecei a andar de moto e abandonei a bicicleta. Passei mais de 35 anos sem pedalar.


E o meu filho é acostumado a fazer trilha, tem um grupo que participa de trilhas com outros amigos e ele sempre me incentivando a andar de bicicleta. Sempre ele falava: “Pai, pega a minha bicicleta aí, vai dar uma volta, você vai gostar”, porque eu andava de carro e de moto para todo canto. Aí certo dia, peguei a bicicleta do meu filho e fui experimentar, depois de mais de 35 anos sem pedalar, tive um pouco de dificuldade para dar volta no quarteirão, mas depois fui me acostumando. Aí veio a curiosidade, eu disse: “nossa, como a gente fica sem andar de bicicleta, a gente fica destreinado, né?” Quase não consegui andar. Aí comecei a pegar a bicicleta dele com mais frequência, quando ele deixava lá em casa, de vez em quando eu pegava e dava uma volta, e isso foi me dando vontade de pedalar.


Depois comprei uma bicicleta para mim e tive um acidente de moto, vendi minha moto e fiquei uns quatro anos sem andar de moto. Nisso eu comecei a andar de bicicleta. E nossa, foi uma mudança significativa na minha vida. Porque é muito mais gostoso, muito menos estressante do que andar de carro ou de moto no trânsito. Andar de bicicleta hoje, principalmente que tem bastante ciclovia aqui no bairro onde eu moro, que é na Aldeota. Então facilita bastante a minha vida. Foi uma mudança e tanto,adorei voltar a andar de bicicleta.


K: Aqui em Fortaleza existem diversas iniciativas para os ciclistas como as ciclovias e ciclofaixas, o bicicletar… mas será que o ciclista da cidade acha que ainda precisa de melhorias?


N: Andar de bicicleta pela cidade é muito gostoso, agora ainda falta muita coisa para que a gente possa ter segurança, porque os motoristas, tanto de motocicleta como de carro, eles já não foram educados para respeitar o ciclista.


Então, eu acho que é necessário fazer uma campanha muito grande, uma campanha maciça, por parte dos órgãos competentes para trazer segurança para o ciclista, né? Porque é gostoso, é libertador andar de bicicleta.


K: Agora falando sobre o Bike Anjo, que é uma ONG originária de São Paulo e hoje tem filiais em várias cidades, incluindo Fortaleza com o objetivo de ensinar pessoas de todas as idades a andarem de bicicleta. Lá contam com o trabalho de voluntários para o projeto funcionar. perguntamos para o Ney Gomes como isso funciona.


N: Lá no projeto Bike Angel a minha atuação é ensinar as pessoas. As pessoas chegam lá sem saber pedalar e eu sou só mais um membro voluntário que ajuda as pessoas a aprender a andar de bicicleta. A gente ensina as técnicas, né? E o aluno, quando é bem interessado, absorve as técnicas rapidamente e geralmente sai de lá pedalando. Minha atuação é essa, é passar as técnicas que a gente aprende para o aluno.


K: E como começou sua relação com o projeto?


N: Minha relação com o projeto Bike Anjo começou por causa da minha esposa. Depois que eu comecei a pedalar, minha esposa sempre falava “eu tenho muita vontade de pedalar, eu quero aprender a pedalar.” E ela já tinha 48 anos nessa época aí, quase 49 e não sabia pedalar. Ela tinha tentado algumas vezes quando criança, mas levou alguns tombos e ficou traumatizada.


Aí eu tentei ensinar ela a pedalar e não consegui. Comprei uma bicicleta pra ela e tal, tentei várias vezes, mas é assim como dizem “o santo de casa não faz milagre”. Aí a gente começou a pesquisar uma maneira de ela aprender, e encontrei o Bike Anjo, um projeto maravilhoso que ensinava as pessoas a andar de bicicleta.


Até ainda não conheci o Bike Anjo. Aí eu já estava meio desesperado, com ela também preocupada dizendo que não ia aprender de jeito nenhum, porque ela tinha tentado várias vezes e não tinha conseguido ensinar a minha esposa, então a gente resolveu procurar o Bike Angel. Nessa época o Bike Angel estava ensinando aqui na praça das crianças, no centro aqui de Fortaleza. Aí eu fui para lá com a minha esposa.


E lá a gente tentou quatro vezes, porque o projeto funciona uma vez por mês. Uma vez por mês tem a aula de bike para as pessoas que não sabem pedalar. E aí ela foi a primeira vez, não conseguiu, foi a segunda, não conseguiu, foi a terceira, não conseguiu e o desespero batendo. E a gente já estava preocupado. Aí na quarta vez ela conseguiu andar uns 100 metros. Nossa, foi emocionante.


Eu chorei porque fiquei emocionado vendo ela aprendendo a dar de bicicleta, realizando um sonho, ela queria aprender antes do aniversário dela que seria em setembro, e ela aprendeu em julho, eu acho, quase dois meses antes do aniversário dela. Eu tinha comprado uma bicicleta para ela dessas simples, depois que ela aprendeu eu comprei uma bicicleta melhor e hoje a gente pedala junto, é maravilhoso.


Foi uma conquista assim, grandiosa, né? É muito gostoso pedalar junto com a minha esposa, então com o Bike Anjo, minha relação com ele é relação de amor. Depois que a minha esposa aprendeu a pedalar, eu comecei a ser voluntário. Eu me voluntariei, aprendi algumas técnicas lá com o pessoal do Bike Anjo e hoje é um dos projetos que eu não pretendo abandonar jamais.


K: O que você mais gosta sendo colaborador do projeto?


N: Nossa. O projeto Bike Anjo é um projeto que traz assim, uma riqueza enorme para a gente, uma satisfação enorme, porque as pessoas chegam lá querendo aprender a pedalar, alguns já tentaram, né? E não tiveram sucesso, outros nunca tentaram e quando chega lá, a gente fica com aquela expectativa: “como é que vai ser, será que as pessoas vão aprender”. A gente sempre confia mas as pessoas vão inseguras e quando no final da aula, que a gente tem uma vez por mês lá, a pessoa sai de lá pedalando, isso aqui é... nossa... não tem dinheiro que pague no mundo.


O que eu mais gosto desse projeto é isso, é ver as pessoas saírem de lá pedalando. E também às vezes eles pegam o contato, porque eles querem pegar informações, e quando eles interagem com a gente dizendo: “Olha, eu estou pedalando, eu estou aqui perto da minha casa, eu peguei uma bicicleta ali do projeto bicicletar e estou aqui pedalando.”


Então o que eu mais gosto desse projeto é isso, é ver as pessoas pedalando, é um carro a menos na rua, porque as pessoas que usam a bicicleta para trabalhar, para ir no supermercado para passear, tudo é gratificante, que é um carro a menos na rua, poluição a menos, é uma violência a menos, é um perigo a menos porque a bicicleta a gente anda com cuidado.


Então o projeto é gostoso por isso, porque acho que diminui a violência no trânsito. Quando a gente vê uma pessoa pedalando, a gente sabe que ele está fazendo aquilo por amor, que gosta, e que ele está correndo menos risco de se acidentar e de acidentar alguém, porque a bicicleta não tem esse potencial todo de causar um acidente. Então o projeto é bom por isso porque diminui a quantidade de carros na rua e traz saúde para a gente, para quem pedala.


K: Realmente é um trabalho incrível. Inclusive, no dia da nossa visita da ação do projeto, entrevistamos alguns alunos presentes. Vamos ouvir um pouco dos relatos deles.


Luzanira: Luzanira Guedes, 45 anos. Nossa, foi um sonho pra mim, né? Porque eu tinha um sonho de aprender a andar de bicicleta e foi lá que eu consegui. Há um ano atrás, há um ano atrás eu consegui realizar, que eu considero um sonho, porque eu já tinha tentado em casa, sozinha. E eles dão todo o apoio, né? Tem as bicicletas adequadas, tem os instrutores. É libertador. Hoje eu pedalo já nas ruas de Fortaleza, eu adoro. Vou com meu trabalho, moro próximo, desço pra praia todo dia.


Aí tava eu vendo TV no YouTube, aí tinha um projeto, transito pelas capitais, que é do Bike Anjo. Eu falei, nossa, em Fortaleza tinha que ter isso. Aí a gente pesquisou e tinha em Fortaleza. Eu fiquei super empolgada, pesquisamos, descobrimos que ele estava próximo do meu bairro. Aí pronto, aí comecei. Eu fui a primeira, a segunda. Aí a meu esposo falou assim, quando você aprender. Porque a meu esposo tinha uma linda vontade de que eu aprendesse, pra gente poder sair pedalando pela cidade.


Quando eu aprendi, aí pronto, ele virou voluntário. Hoje ele é voluntário. Tem o maior prazer ensinar quem não sabe. E é gratificante você ver as pessoas adultas, porque realmente aqui é mais para adultos. E eu sou grata a Bike Anjo, esse projeto maravilhoso.


Tamara: Meu nome é Tamara Moreira, tenho 26 anos. Eu achei muito interessante a iniciativa, porque eles ensinam as pessoas adultas, né? Geralmente a gente vê mais ensinando para a criança e tal. Eu achei muito interessante, realmente a disponibilidade deles de ensinar as pessoas, fica com muita vontade de aprender bicicleta. E eu tô aqui, eu tô super animada pra entender as técnicas, entender como é que eles ensinam.


Eu soube porque teve uma amiga da minha mãe que veio pro projeto, né? E falou que tinha conseguido aprender a andar e também soube pelo Instagram. Eu sempre tive muita vontade desde criança, só que eu sempre tive muito medo. Então o fato do projeto ter esses instrutores me deu mais segurança de vir.


Paulo: Paulo Victor Andrade, tenho 24 anos. É muito interessante, porque às vezes nem todo mundo tem a oportunidade de aprender quando criança e aqui eles acabam ensinando para todas as idades. Eu, por exemplo, até tentei quando era criança, mas aí eu me frustrei porque eu caí. Aí eu desisti do ciclismo e não tive tanto incentivo para continuar. Aí eu tive interesse agora de aprender.


Tem muitos amigos meus que fazem passeios de bicicleta e tal. E aí sempre me chamaram e eu sempre tive essa barreira de não saber andar de bicicleta. Aí assim que eu aprender, pretendo ir aí esses passeios.


Beatriz: É Beatriz, Maia, 28 anos. Ai, maravilhoso! Principalmente para quem se sente inseguro em andar de bicicleta como eu. Aqui é a porta de entrada para começar a andar.


Ah, porque eu gosto tanto de andar pelo calçadão, mas nunca me senti segura. De andar sozinha, né? De bicicleta. Com o projeto, sei que tem uns voluntários para ajudar a gente, aí foi isso que motivou, andar pelo calçadão aqui na Beira-Mar.


K: E por fim o nosso entrevistado deixou uma mensagem para quem quer começar a pedalar, escuta só


N: A mensagem que eu deixo aqui é que as pessoas não desistam, né? Se tem vontade de pedalar, não precisa ser só com o Bike Anjo, se não quiser procurar o Bike Anjo, procura um amigo.


É mais difícil na verdade, com um amigo, com um pai, com um namorado, com um marido, é mais difícil. O Bike Anjo, ele tem mais facilidade de a pessoa aprender a pedalar. Isso é uma experiência própria. Eu mesmo não consegui ensinar a minha esposa. Não era por falta de paciência, mas era por falta de técnica, na verdade. Eu sempre fui muito paciente com, ela não acreditava muito, eu incentivava, mas mesmo assim eu não consegui.


E o Bike Anjo tem a técnica, tem toda uma técnica, então se você quer pedalar, procure o Bike Anjo! Não importa a sua idade, a gente ensina lá a partir de 12 anos, mas a gente orienta crianças com menos de 12 anos, para os próprios pais ensinarem, até para que eles tenham esse contato com os filhos e que fique na história, “o meu pai me ensinou a pedalar”, isso é legal.


Mas, se não for possível, procure o Bike Angel e de lá você com certeza vai sair pedalando, porque é um projeto que não visa lucros, é um projeto que ajuda as pessoas sem visar lucros. Claro, a gente precisa de ajuda para a manutenção das bicicletas, né? Porque as bicicletas têm o desgaste, né? A gente sempre precisa estar fazendo a manutenção.


Se você quiser colaborar com Bike Anjo, pode colaborar, independente de você ter aprendido a pedalar ou não. Você pode colaborar, né? É só entrar, procurar no Instagram o site Bike Anjo. E lá tem um Pix que você pode ajudar a fazer uma manutenção das bicicletas, para que as pessoas possam continuar pedalando. E como eu disse, não tem limite de idade. Já saiu gente de lá com mais de 70 anos pedalando, que nunca tinha pedalado.


Então não deixe de procurar o Bike Angel para que você possa realizar seu sonho. Pedalar é libertador.

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