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Deus, eu amo o meu trabalho!

Foto do escritor: Júlia MouraJúlia Moura


Separador de texto. Imagem de quatro carros amarelos

No centro da foto vê-se um carro de táxi branco e adesivado com  a logo dos  táxi de fortaleza, um atrás do outro. Ao fundo a calçada da praça José de Alencar com pessoas andando e na lateral direita vendedores de roupas ambulantes
Carro de Gilson Braga/Foto: Júlia Moura

É no meio desses antigos edifícios, onde só podemos ver a grande circulação de pessoas, mercadorias e transportes, no coração da capital cearense, ali, pertinho do mar, que pratico meu ofício todos os dias. É levando de um canto, trazendo de outro. É. Já vi e vivi muita coisa nesses longos anos de profissão. 


Todo dia faço tudo sempre igual, mas quem disse que fazer tudo igual significa viver todos os dias a mesma coisa? Quem está lá fora, nas calçadas, talvez veja um táxi igual a tantos outros. Mas quem está aqui, no volante, sabe que cada viagem é uma história, um olhar, é uma pessoa diferente. Mesmo que eu quisesse um dia pacato, isso seria impossível. O destino pode até ser o mesmo, mas o trajeto é sempre uma surpresa.


Todo dia faço tudo sempre igual, mas quem disse que fazer tudo igual significa viver todos os dias a mesma coisa? Quem está lá fora, nas calçadas, talvez veja um táxi igual a tantos outros. Mas quem está aqui, no volante, sabe que cada viagem é uma história, um olhar, é uma pessoa diferente. Mesmo que eu quisesse um dia pacato, isso seria impossível. O destino pode até ser o mesmo, mas o trajeto é sempre uma surpresa.


Falar do táxi é fácil demais, porque o táxi, minha gente, é uma invenção que nunca envelhece, me pus logo a dizer:

“O táxi tem 120 anos, moça. Foi o primeiro transporte do mundo!"

Digo isso com orgulho no peito, quase sem pestanejar. A história do táxi é a minha também. Ao longo dos anos, nós, taxistas, nos dividimos em diferentes categorias, cada uma com seu segmento e também seu ponto. Tem o táxi comum, o de aeroporto, o rodoviário, e o de lotação, ao qual pertenço com muito orgulho.


Nesses anos de minha profissão de taxista de lotação, a qual tenho muita paixão e alegria em lhe apresentar, já levei todo tipo de passageiro, é turista perdido, trabalhador em fim de experiente, do idoso ao jovem, da médica à dona de casa, e é claro, aqueles que não trocam o táxi por nada! Ah!  mas todos eles para mim são formidáveis. São eles que me sustentam, sustentam a minha família, é assim que gosto de pensar. 


Mas você deve se perguntar: não são perigosas as ruas da cidade? Já lhe aconteceu algo? Não, não aconteceu, quero dizer, até tentaram me assaltar umas três vezes, mas com a vontade de Deus, eu reagi e todas as três nada me aconteceu. Me orgulho? Não, mas tive sorte, ou levei a melhor, quero dizer, porque a sorte não existe, para mim você tem que plantar para colher.


E por falar em plantar para colher, não tem sido fácil, hoje em dia, já não faz mais sentido para nós, infelizmente, trabalhar apenas com táxi. É aplicativo, é isso, é aquilo outro, que fomos ficando mais esquecidos, com menos trabalho. Hoje, o que compensa mais para nós é a lotação. Mas é aquilo né? “Compensar, compensa ganhar tudo isso sem trabalhar, mas aí a gente termina no presídio.”


O bom da lotação é que conheço todos aqui no ponto, meus colegas de trabalho, os ambulantes, lojistas e meus passageiros, e aqui e acolá o povo me chama para ir para praia, para isso, para aquilo, outro. É boa demais a vida de taxista, não tem outro melhor não. 


Eu, na época de hoje, eu não queria ser nada, não, não, não. Queria só ser taxista mesmo. Porque isso aqui é uma paixão muito maravilhosa. Só aqui a gente conduz pessoas incríveis, pega pessoas boas mesmo, pega também uns ruins, né? Porque ninguém pode escolher.


Até hoje eu não vi uma profissão melhor do que a do taxista para se viver, por quê? Primeiro lugar, você conhece tudo, você conhece muitas pessoas maravilhosas, você tá aqui no centro e de repente você pode estar no Aracati, assim como também o passageiro pode chegar aqui e pedir para ficar ali na praia, é imprevisível. 


E digo para a moça: “E podem me pagar em PIX, em dólar, em peso, tanto faz!”, eu brinco. Mas a verdade é que o maior pagamento que recebo é poder fazer o que amo. E para fechar a conversa com ela, me lembro e digo um ditado que ouvia desde novo: “Trabalhe com o que você ama, e nunca mais precisará trabalhar na vida.” Ela sorri, e eu penso comigo mesmo: é isso. Deus, eu amo meu trabalho!


Separador de texto. Imagem de quatro carros amarelos

Para ouvir a crônica, clique aqui:



Audio cover
Deus, eu amo meu trabalho!

Processo de construção do material:

Esta crônica, elaborada em primeira pessoa, foi construída a partir dos relatos de Gilson Braga, um taxista que escolheu a modalidade de lotação como forma de trabalho. A entrevista, realizada para a cadeira de Laboratório de Jornalismo 1, revelou os desafios e as dificuldades enfrentados por Gilson e outros taxistas na capital, oferecendo à autora, Julia Moura, uma compreensão mais profunda das dinâmicas do transporte urbano. Inspirada por essas histórias, Julia decidiu transformar as memórias e vivências de Gilson em uma crônica, dando voz às suas experiências e trazendo à tona o cotidiano dos profissionais que vivem essa realidade.

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